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Cultura Material

Atualizado: 11 de dez. de 2019

Muito além de meros objetos, a conexão entre materialidade e vida social nos ajuda a compreender mais sobre o passado e a estabelecer importantes relações com o presente. Vamos descobrir mais!


Figura 1

Tumba do Rei Kaleb, em Axum: exemplo de cultura material.



Você sabe o que é #CulturaMaterial?


     Quando digitamos "cultura material" na barra de pesquisa do Google, uma definição que pode aparecer é: "um conjunto de objetos feitos ou modificados pelo homem - utensílios, ferramentas, adornos, meios de transporte, moradias, armas, tecidos, etc". Mas essa afirmação parece transmitir a ideia de algo estático e simples, como se fossem apenas elementos transformados pela ação de um ser humano para atender a alguma necessidade em algum momento específico da História.


     Essa é uma noção um pouco simples sobre o significado de cultura material. Não é só uma ilustração do passado nem apenas uma prova da existência de algum grupo de pessoas em determinada localidade. A área de estudo que lida mais diretamente com a cultura material, chamada #Arqueologia, é "uma verdadeira ciência social" que estuda não somente os objetos (onde eles foram produzidos e por quem, qual sua finalidade, etc). Mais do que isso, os estudo dos objetos, ou melhor, da cultura material ajudam a "explicar os processos de transformação das sociedades” (REDE, 2012, p. 137).


     Por exemplo, observe as fotos, em ângulos diferentes, de um mesmo vaso abaixo:













Figura 2

Alabastro com representação de etíope, machado, arco, palmeira e banco/suporte. Coleção: Oxford, Ashmolean Museum. Data: 480-470 a.C.




Agora observe este outro vaso, do mesmo período:

Figura 3

Alabastro com etíope portando um machado, manta, palmeira, banco/suporte. Coleção: St. Petersburg, State Hermitage Museum. Data: 490-470 a.C.



Os vasos de alabastro, conhecidos por conservarem óleos perfumados e caros, eram também "utilizados por atletas [gregos] nos exercícios físicos" (BISPO, 2006, p.48). Embora os dois vasos acima tenham sido confeccionados no século V a. C., um momento anterior ao período do reino de Axum (localizado também onde hoje fica o país Etiópia), fica registrada a visão do grego em relação ao #etíope na Antiguidade. Mas por que teriam sido etíopes retratados em vasos de origem grega?


Se observamos bem, podemos notar elementos de guerra como "calça, túnica, cinto, couraça", além do arco e da flecha (Figura 2) e do machado (Figuras 2 e 3). Nesse sentido, esses elementos "nos levam a supor que os etíopes serviram como modelo de representação dos ideais aristocráticos" (BISPO, 2006, p. 68). A força e a virilidade dos etíopes #negros eram características muito admiradas pelos gregos, que os registravam em seus vasos para uso durante treinamentos físicos.

Desafio


Crie um gif com as imagens dos vasos!




Estelas funerárias


Figura 4

A estela de 24 metros de altura do Rei Ezana no Parque das Estelas do Norte, a maior estela ainda de pé. Jane Sweeney/Getty Images



Essa estela foi construída há aproximadamente 1700 anos. Mas ela não é a única. Muito comuns em Axum, as #estelas eram construídas para indicar o lugar onde um ou mais indivíduos foram enterrados. Algumas delas são decoradas em sua estrutura. Há também a presença de uma "porta falsa" na parte inferior, como mostram as Figuras 4 e 5. Em alguns casos, como na Estela identificada como de número 137, no fundo de sua base, foram descobertos dois esqueletos humanos.


Figura 5

Esquema proporcional entre uma das estelas e a altura média humana.



No interior das estelas, em "alguns túmulos foram encontrados ossos de animais, queimados ou não". Isso pode indicar que alguma cerimônia envolvendo sacrifício de animais tenha sido feita no momento do funeral. "Possivelmente os ossos de animais e o carvão eram restos de uma refeição funerária ou comemorativa." (MUNRO-HAY, 1991, p. 217 - Tradução livre), semelhante às práticas romanas e celtas, por exemplo.

Para pensar


Com construções de enorme proporção e com práticas funerárias parecidas com a dos romanos e dos celtas, você acha que a afirmação de que "a civilização axumita seria retrógrada" é válida?



Moeda de prata do Rei Endubis, 270-300 d.C.

Figura 6


“(Anverso) Busto de cabeça e ombros de Endubis à direita, usando um tapa-cabeça com raios na testa e fita triangular atrás. (reverso) Busto da cabeça e dos ombros de Endubis à direita, usando toucado com raios na testa e fita triangular atrás.” (Tradução Livre) I em grego, "Rei Enubis"




Moeda de ouro do Rei Kaleb, 500-525 d. C.

Figura 7


“Descrição: Moeda de ouro. (Anverso) Busto de Kaleb a meio comprimento, direito, coroado, segurando o bastão, ladeado por dois talos de trigo, em um círculo interno com contas. (reverso) Busto de Kaleb à direita, com meio comprimento de cabeça, segurando o bastão, ladeado por dois talos de trigo, em um círculo interno com contas.” (Tradução livre) Inscrição, em grego, "Rei Kaleb".



"Nenhum outro estado da África Sub-Saariana produziu sua própria cunhagem independente em tempos antigos. De fato, apenas alguns outros estados contemporâneos [à Axum] no mundo poderiam emitir moedas em ouro - Roma, Pérsia." (Tradução livre - Munro-Hay, 1999, p. 9 ; apud The British Museum. The wealth of Africa: The kingdom of Aksum)


Agora é sua vez!


Sabendo que o reino possuía suas próprias moedas, o que isso significa em termos de negócios?



Por Vitória Machado



Figuras


Figura 1

Kaleb's tomb, Aksum. Boston University. Pardee School of Global Studies - African Studies Center. Disponível em: <https://www.bu.edu/africa/resources/psae/image-library/kalebs_tomb_aksum/> Acesso em: 01/12/2019.


Figura 2

Alabastro com representação de etíope, machado, arco, palmeira e banco/suporte. Coleção: Oxford, Ashmolean Museum. Data: 480-470 a.C. apud: BISPO, 2006, p. 73-74.


Figura 3

Alabastro com etíope portando um machado, manta, palmeira, banco/suporte. Coleção: St. Petersburg, State Hermitage Museum. Data: 490-470 a.C. apud: BISPO, 2006, p. 48.


Figura 4

A estela de 24m do Rei Ezana no Parque das Estelas do Norte, a maior estela ainda de pé. Jane Sweeney/Getty Images Disponível em: https://www.thoughtco.com/aksum-of-ethiopia-iron-age-kingdom-167038


Figura 5

Figura proporcional entre uma das estelas e a altura média humana. Disponível em: <https://zonaparanormal2012.wordpress.com/2012/12/07/el-monolito-de-aksum/> Acesso em: 01/12/2019.

Figura 6

Moeda de prata do Rei Endubis, 270-300 d.C. Disponível em: <https://research.bri


Figura 7

Moeda de ouro do Rei Kaleb, 500-525 d. C. Disponível em: <https://research.british




Referências


BISPO, Cristiano Pinto de Moraes. Os etíopes: o modelo para a aristocracia guerreira ateniense. In: ________________. Narrativa, Identidade e Alteridade nas Interações entre atenienses e etíopes macróbios nos séculos VI e V a. C. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: https://minerva.ufrj.br/F/6SRFSESUUBL39L4S1IL331LNPULGX672I7LJTAY13CE3T8D6UF-01644?func=service&doc_library=UFR01&doc_number=000666886&line_num


DESSIE, Asamerew. Primary and Current Prehistoric and Aksumite Archaelogical Research in Ethiopia. In: Annales d'Ethiopie. Volume 23, année 2007. pp. 315-328; Disponível em: <https://www.persee.fr/doc/ethio_0066-2127_2007_num_23_1_1512> Acesso em: 26/11/2019.


MUNRO-HAY, Stuart C. Aksum: an African civilization of late antiquity. Disponível em: <http://www.dskmariam.org/artsandlitreature/litreature/pdf/aksum.pdf> Acesso em: 15/11/2019.


The wealth of Africa: The kingdom of Aksum - Teacher's Notes - British MuseumDisponível em: <http://fliphtml5.com/ornh/runj/basic> Acesso em: 11/11/2019.


REDE, Marcelo. História e Cultura Material. In: Novos Domínios da História. Ciro Flamarion Cardoso, Ronaldo Vainfas (Organizadores) Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Disponível em:<https://carlosprado1985.files.wordpress.com/2015/02/novos_domi

nios_da_historia.pdf> Acesso em: 27/11/2019.

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