Por que estudar a Civilização Axumita?
- Vitória Machado
- 12 de nov. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 11 de dez. de 2019
Era um grande centro comercial entre a (atual) Europa e a Ásia, independente do Império Romano e com moeda própria. Apesar da riqueza cultural de quase mil anos de existência, pouco é falado sobre. Surge um paradoxo e também um provocante "caça pistas".
A Civilização Axumita (século I d.C. ao VII d.C.) era localizada, em sua maior parte, na região da África oriental, no território que, hoje, corresponde ao país Etiópia (em amárico, ኢትዮጵያ). Veja no mapa abaixo:

Figura 1
Mapa da África com o território da atual Etiópia em verde.
Dando um zoom, em diálogo com a Geografia, a atual Etiópia faz fronteira com outros países. Você consegue identificar quais são?

Figura 2
No mapa acima, em uma visão ampliada da região, identificamos os nomes dos países fronteiriços atuais.
São seis: #Eritreia, Djibouti, Somália, Quênia, Sudão do Sul e Sudão.
Muita gente acaba incluindo Uganda nessa lista. Mas, apesar de estar próxima, note que Uganda não faz fronteira com a Etiópia.
E é nessa mesma região, durante os séculos I d.C. ao VII d.C., que havia a civilização axumita. No mapa abaixo, podemos notar sua extensão máxima representada em laranja. Repare no ponto que indica a capital de mesmo nome do reino, Axum ou Aksum (atualmente, território da Etiópia). Também com grande importância, observe a cidade portuária de Adulis (atualmente, território da Eritreia). As setas em vermelho representam percursos de rotas comerciais existentes no período, muitas pelo Mar Vermelho. Observe:

Figura 3
Extensão territorial da civilização axumita.
Mas a história dessa região é uma das mais antigas do mundo, você sabia? Voltando lá no século X a.C., podemos decobrir mais sobre a história da origem da Etiópia. A vertente mais aceita é a da união de dois personagens históricos: rei #Salomão e rainha de Sabá. De acordo com a Fundação Palmares, por meio do registro do "livro Kebra Negast, acredita-se que nesta região viveu a Rainha de Sabá (Makeda)" e "que a família imperial da Etiópia, bem como os imperadores de Axum, têm sua origem a partir de Menelik I, filho da Rainha de Sabá e do rei Salomão". Observe como até recentemente esta história fundacional aparece atravessando o cotidiano etíope, por exemplo:

Figura 4 Capa de almofada etíope moderna retratando o Rei Salomão de Jerusalém e a Rainha de Sabá de Axum. Atrás, duas #estelas.
Podemos ver também o termo "etíopes" nos versos de Homero, por exemplo. Aparecem como os "Etíopes, que moram no oceano." (Ílíada, canto I, verso 423), o que pode ser ilustrdo com as setas em vermelho do mapa da Figura 1, ou seja, a grande circulação de embarcações etíopes pelo mar.
OK! Já sabemos onde o reino axumita estava localizado. Mas como esse nome Axum apareceu na história?
Segundo a obra História Geral da África (2010, p. 352), as duas primeiras vezes, que se tem conhecimento, em que o nome "Axum" apareceu em documentações escritas foram:
1) no guia naval e comercial Periplus Maris Erythraei (Périplo do Mar da Eritreia), produzido por um negociante egípcio entre o final do século I d.C e o início do século II d.C.
2) posteriormente, em escritos de Ptolomeu, o Geógrafo, também consta o nome do porto de Adulis da civilização axumita.
No entanto, as principais fontes históricas sobre a civilização axumita são encontradas por meio da #Arqueologia que você verá mais detalhado no quadro #CulturaMaterial. Mas, por enquanto, vamos:
Usar a imaginação
Agora que sabemos que a civilização axumita estava localizada no território da atual Etiópia sua maior parte, no que você imagina ao pensar em Etiópia?
Você se lembra da Conferência de Berlim? No século XIX, os países conhecidos como "potências mundiais" dividiram a África em territórios para que eles explorassem, as colônias. Se liga no meme:

Figura 5
Meme ilustrando a posse da África pela Europa durante o colonialismo.
Apesar de o ano da Conferência de Berlim estar "1889" no meme (na verdade, ela aconteceu entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885), mesmo assim, podemos aprender mais. Nesse sentido, o bolo inteiro seria o continente africano, sendo "cortado", pela faca ou Conferência de Berlim. As potências europeias dividiram entre si os territórios africanos para "civilizarem" as regiões, e explorar recursos naturais, as matérias-primas, fazia parte da ideia. Mas e a parte do bolo que sobrou?
A fatia do bolo que não ficou sob o domínio da Europa representa só dois dos 45 países que existem hoje na África! (Talvez a fatia da imagem devesse ser um pouco mais fina, não?) Apenas Líbia e Etiópia se mantiveram fora do colonialismo. O segundo país, que é nossa área de enfoque agora, resistiu às tropas italianas e permaneceu com sua autonomia.
Expectativa: Sabendo disso, uma região que tem se mantido independente ao longo de séculos merece, no mínimo, nossa atenção.
Realidade:

Figura 6
Meme ironizando a diferença de prioridade em relação aos discursos sobre Axum e Egito.
Apesar de ainda ser dada pouca voz a essa parte da HIstória, as ruínas da antiga cidade de Axum foram inscritas, em 1980, na lista do Património Mundial, pela UNESCO (acrônimo de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, em português, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Observe esta curta publicação no site da UNESCO em espanhol: https://whc.unesco.org/es/list/15
A civilização axumita é um capítulo da história de independência da Etiópia, que vem desde a Antiguidade. Axum também chamou a atenção do líder religioso persa, Mani, no século III d.C. "A prosperidade geral e a reputação [da civilização Axumita, fizeram ele] rotular Axum como terceiro dos reinos do mundo no final do século III." (Tradução livre de Munro-Hay, 1991, p. 13 ; apud The British Museum. The wealth of Africa: The kingdom of Aksum) Isso não é pouca coisa, não!
Por Vitória Machado
Figuras
Figura 1
Disponível em: <https://www.drivingdirectionsandmaps.com/pt/eti%C3%B3pia-google-map/> Acesso em: 02/12/2019.
Figura 2
Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/place/Eti%C3%B3pia/@13.73167
2!3d9.145!4d40.489673 > Acesso em: 02/ 12/2019.
Figura 3
Extensão territorial da civilização axumita. (apud COSTA, 2018, p. 16)
Figura 4
Capa de almofada etíope moderna retratando o Rei Salomão de Jerusalém e a Rainha de Sabá de Axum. Atrás, duas estelas. The wealth of Africa: The kingdom of Aksum - British Museum. Disponível em: <https://www.yumpu.com/en/docume
nt/view/11985791/the-wealth-of-africa-the-kingdom-of-aksum-british-museum> Acesso em: 10/11/2019.
Figura 5
Meme ilustrando a posse da África pela Europa durante o colonialismo.Disponível em: <https://pt.memedroid.com/memes/detail/2402374/Etiopia>Acesso em: 27/ 11/ 2019.
Figura 6
Meme ironizando a diferença de prioridade em relação aos discursos sobre Axum e Egito. Disponível em: <https://me.me/i/pokypatvpa-abtohomho3-axum-egypt-h ey-look-it%E2%80%99s-not-a-roman-fc6dd70c00a64fd98116f5f4ffc153b9> Acesso em: 27/11/2019.
Referências
História geral da África II: África antiga / editado por Gamal Mokhtar. – 2.ed. rev. – Brasília : UNESCO, 2010. 1008 p. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000319.pdf> Acesso em 30/10/2019.
MARQUES, Lorena de Lima. Reinos e Impérios Africanos: Império de Axum. Fundação Cultural Palmares. Disponível em: <http://www.palmares.gov.br/?p=54041> Acesso em: 02/11/19.
COSTA, Viegas Fernandes da. Antigos reinos africanos. (Instituto Federal de Santa Catarina). Disponível em: <https://www.slideshare.net/viegasdacosta/antigos-reinos-africanos> Acesso em: 02/12/2019.
The wealth of Africa: The kingdom of Aksum - British Museum. Disponível em: <https://www.yumpu.com/en/document/view/11985791/the-wealth-of-africa-the-kingdom-of-aksum-british-museum> Acesso em 10/11/2019.
MUNRO-HAY, Stuart. The rediscovery of Aksum. Disponível em: <https://www.addisherald.com/2-3-the-rediscovery-of-aksum-in-modern-times/> Acesso em: 27/11/2019.
MUNRO-HAY, Stuart C. Aksum: an African civilization of late antiquity. Disponível em: <http://www.dskmariam.org/artsandlitreature/litreature/pdf/aksum.pdf> Acesso em: 15/11/2019.
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